Incêndios Florestais em Portugal: Causas, Queimadas e Desafio
Os incêndios florestais em Portugal são um problema persistente, com graves impactos ambientais, sociais e econômicos. Entender as causas — desde queimadas agrícolas até incêndios provocados — é crucial para combater essas tragédias recorrentes.
1. O panorama atual: a escalada dos incêndios em 2025
- Em 2025, Portugal observou um aumento acentuado da área queimada: cerca de 52 000 hectares já foram consumidos por incêndios, superando a média dos últimos anos
- Segundo fontes como a Euronews, dos 3 370 incêndios ocorridos, as causas mais frequentes foram:
- Incêndios provocados: 24 %
- Queimas extensivas de resíduos florestais ou agrícolas: 13 %
- Queima de pilhas de resíduos: 11 %
- A combinação de temperaturas extremas, clima seco, ventos fortes e terreno difícil intensificou os incêndios, exigindo milhares de bombeiros, viaturas e meios aéreos
2. Por que ocorrem os incêndios?
2.1. Ação humana: negligência voluntária e involuntária
- Estudos indicam que mais de 90% dos incêndios florestais têm origem humana — seja por negligência ou ação criminosa
- Ainda, uma investigação de 2012 mostrou que atos intencionais (“incendiarismo”) e negligências (como fogueiras mal controladas) foram responsáveis por quase o mesmo número de incêndios — embora casos suspeitos recebam mais atenção nas estatísticas
- Outro estudo mais recente aponta que 31% dos incêndios intencionais foram confirmados, enquanto menos de 2% (dos apurados) têm causa natural
2.2. Queimadas, fogueiras e agricultura tradicional
- A prática de queimadas e queimas controladas de restos agrícolas — como sobrantes de poda ou limpeza — é tradicional, mas muitas vezes ocorre fora dos períodos permitidos, facilitando o descontrole
- Estudos indicam que mais que 60% dos incêndios resultam de queimadas mal feitas
- A falta de fiscalização, desconhecimento da legislação ou pressa nas limpezas agrícolas contribuem para isso.
2.3. Arsonismo e intenções deliberadas
- A ação deliberada, por motivos diversos — excitação, vingança, vandalismo ou até lucro — é significativa. Especialistas afirmam que até 75% dos incêndios podem ser criminosos, embora as estatísticas variem por estudo
- Jornalismo investigativo mostrou que em 2022, 28% dos incêndios foram atribuídos a arsonistas em Portugal — o dobro da média da Espanha
2.4. Condições climáticas extremas
- O aquecimento global trouxe verões mais longos, quentes e secos. A baixa humidade do ar, ventos intensos, ausência prolongada de precipitação e ondas de calor aumentam drasticamente a propagação do fogo
- Em 2017, regiões como Pedrógão Grande sofreram com temperatura extremas e secas históricas, contribuindo para as tragédias
2.5. Monocultura e desordenamento territorial
- A predominância de eucalipto, espécies inflamáveis e mal geridas, é um problema grave. Na Serra de Monchique, por exemplo, mais de 72 % do território é eucaliptal, o que facilita a propagação do fogo — e as faixas de descontinuidade foram insuficientes .
- A falta de diversidade nos ecossistemas, o despovoamento rural e abandono da terra associam-se à decadência da gestão florestal.
3. Casos emblemáticos: lições históricas
2017: Incêndio de Pedrógão Grande
- Deflagrado por uma trovoada seca ou contato de vegetação com uma linha elétrica, o incêndio foi um dos mais mortíferos — resultando em 64 mortes, dezenas de feridos e destruição massiva
- A investigação concluiu que a negligência na limpeza das áreas próximas à rede elétrica foi crucial; além disso, o território era dominado por eucalipto e pinheiro, inflamáveis
Incêndio de Monchique (2018)
- As altas temperaturas (47 °C) e baixa humidade (14%), combinadas com a expansão descontrolada do eucaliptal e falta de faixas de contenção, tornaram este incêndio quase incontrolável
Incêndios na Serra da Estrela e Covilhã (2022)
- Mais de 10 500 hectares arderam envolvendo acessos difíceis e falhas operacionais — críticas foram feitas à priorização de eventos como a Volta a Portugal, em vez do combate direto ao fogo
4. Como evitar e gerir melhor?
Prevenção ativa no inverno
- Técnicos ressaltam a necessidade de ações preventivas — limpezas controladas, desbaste, criação de faixas de contenção e gestão ativa do território durante o inverno
Fiscalização rigorosa das queimadas
- Restringir e monitorar rigorosamente as queimas agrícolas, com campanhas educativas e aplicação da lei, são passos fundamentais.
Reforma do ordenamento florestal
- Diversificar espécies com florestas mais resilientes, reduzir eucaliptais e incentivar sistemas agroflorestais podem diminuir a inflamabilidade geral das florestas
Ações na criminalidade e negligência
- Investigar e punir incêndios criminosos e negligentes: o governo planeja endurecer penas no quadro criminal nacional (2025–2027)
Adaptar-se às mudanças climáticas
- Modelos que olham para o clima preveem que incêndios fiquem mais severos e frequentes — é essencial aprender com práticas tradicionais, como queimadas controladas de baixa intensidade, aliadas com previsão e evacuação ágil
Conclusão
Portugal vive uma combinação explosiva de causas para os incêndios florestais: ação humana (negligência, queimadas, arsonismo), clima extremo, monocultura e falhas na gestão territorial. Para reverter esse quadro, é urgente aliar prevenção ativa, fiscalização, educação, mudanças no ordenamento e respostas climáticas adaptativas. Só assim será possível proteger o território e as comunidades de futuras tragédias.
No responses yet